quinta-feira, 2 de abril de 2009

O dia em que a baba fugiu de casa


Ela estava comigo a 2 meses , pegava meu filho na escola dava lanche, banho e ficava com ele no sábado .

Uma adolescente de 16 anos, com anseios, medos e duvidas, como qualquer pessoa desta idade. Durante esse tempo que ficou em minha casa, me senti um tanto responsável por ela. Um responsável ,assim quase mãe.

Conversava, muito tolerava falhas, resolvia direto com ela, nunca a entreguei pra mãe, tratava dela como se fosse responsável pelos seus atos, nessa idade, imagina, eu era muito mais esperta...

Até que um dia chego fora de hora em casa... Encontrei meu filho no quarto escuro vendo TV.

Ao entrar na casa percebo um par de tênis ( masculino ) jogado pelo chão da cozinha...a porta do banheiro fechada ..a luz acessa .fui até o quarto e vi o Pedro , que já foi entregando tudo ...

_Mamãe, ela (a baba) beijou o namorado na boca disse ele quase em sussurro, tapando sua própria boca, com aquelas mãos sujas de manteiga e um bigode de leite, como se me contasse algo secreto.

Senti-me invadida, dentro da minha própria casa, sentindo a movimentação na casa o tal namorado sai do banheiro, com cara de peidei na festa...

Ele volta pro banheiro e comunicava que sujou... (a dona da casa voltou).

Minha vontade era de lhe da uma surra... E jogar o vagabundo pra fora a tapas, respirei fundo, fiz cara de paisagem. Fui pra casa da vizinha, pra dar tempo dele sair sem se despedir...

Quando voltei, conversei com ela.. E perdoei. Proibir que qualquer pessoa fosse a minha casa na minha ausência.

Tudo certo. Até que um dia ela fugiu de casa, passou uma noite com o tal cara... Planejando morar fora do estado.. A mãe dela ficou desesperada, não pra menos, neste mundo de doido ..uma filha solta , sem saber onde procurar ..

No primeiro aperto entreguei.

Vai à casa do tal namorado proibido. ---Foi Batata, como diria meu irmão.

Senti-me culpada, por nunca ter contato pra mãe dela..

Em uma conversa com a mãe..ela me disse que isso já estava acontecendo mesmo antes dela ir pra minha casa .. Que todo mundo avisava , que o cara não prestava , usava drogas, era vagabundo, não queria trabalhar, e que todas as brigas em casa era por esse motivo.

As lágrimas da mãe da minha babá. Fez com que pensasse em minha vida. Na dor que muitas vezes causei a minha mãe. Nos desgostos como ela mesma dizia.

Na minha época (nossa nunca achei que usaria esse termo)

Queria fugir pra ver o mar...

Queria ler e viajar

Queria dançar.

Escolher meus próprios amigos

Usar batom. Sair à noite. Comprar a roupa da moda. Indiferente se era vulgar, bonita ou própria pra minha idade... Queria escolher o que usar e como...

Não pensava desesperadamente em ter namorado, ou transar, o legal era ser virgem, é eu era (aos 16) era ser diferente. Acho que hoje ainda é..rs

Tive uma criação muito diferente dessa garotada de hoje,

Na minha casa, tinha regra e horários pra tudo. Comer, dormir, e principalmente acordar... Cada filho tinha tarefas pra cumprir.

Aos 19 anos sai de casa, fui morar com uma amiga.

Aí... Dancei, comprei roupas, vi os filmes que escolhi. li os livros.. Sem serem rasgados antes do final. Escolhi o que comer. E quando e como. E quanto...

Não compreendia, não aceitava...

Hoje eu sei...

Tenho valores e sou a obra dela. Agradeço cada tapa que levei, e foram muitos e muitos.

Porque hoje tenho um caráter a formar... Talvez com mais tempo, dedicação, doçura, outras técnicas... Ma com o mesmo pulso.. Afinal sou filha da dona Célia...

E como diz a Sábia dona Célia, a fruta não cai muito longe do pé...

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