sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Minha Casa me guarda como um abraço


Minha Casa me guarda como um abraço
Vou transcrever um poema que considero genial. É de autoria da filósofa Viviane Mosé. Saboreamos os seus versos:

É preciso fritar o arroz bastante
Antes de colocar água fervendo,
E não pode mexer jamais depois de a água ser posta,
O alho deve fritar no óleo junto com o arroz.

Coisas que eu sei e que não. Eu sei muitas coisas,
Faxina, por exemplo. Sei limpar uma casa de tal modo
Que não sobra um canto que não
Tenha sido tocado por minhas mãos.
Depois vou sujando. Com muito gosto,
Deixo peças na sala e louças sujas na pia,
Não na mesma hora, mas um pouco bastante depois
Volto limpando. Assim me faço.
Nos objetos que me acompanham.

Gosto de andar nas ruas e comprar as coisas
Que vão se arrumando em torno de mim,
Eu tenho muitas coisas,
Quero dizer, tenho muitas camadas.
Uma camada de livros, outra de sapatos,
Tem uma camada de plantas. E toalhas de rosto,
Tenho camadas de cosméticos e adereços,
Uma camada de nomes e coisas que vejo,
Tudo ordenado ao meu redor. Em forma de corpo.
Um corpo que me sustenta
Quando o meu próprio me falta.

Cadeiras são meus ossos,
Sapatos são meus braços,
Torneiras em meus poros,
Paredes como roupas de inverno,
(Quando toca música em minha casa sai
do umbigo)

Descanso recostado nas paredes de casa
Que me guardam como um abraço,
Me abraço quando me derramo na sala,
E na cozinha. Em geral adormeço no quarto.

Tudo em minha casa tem existência,
Todas as coisas significo. Com os olhos,
Ou com as mãos, Minha casa tem silêncios
Que às vezes ouço, Em meu corpo
Tem silêncios maiores ainda,
Que às vezes ouço, E faço poemas,
Faço poemas dos silêncios que ouço.

Ando com mania de lustra-móveis e ceras líquidas,
Olho um por um nas prateleiras, Sinto a textura e o cheiro,
Espalhando um pouco entre os dedos. Prefiro os de textura fina
E que cheiram a jasmim (gosto mais do aroma floral
mas a palavra jasmim é tão bonita).
Levo todos pra casa e vou espalhando. Primeiro o assoalho,
Considero todos os cantos. Depois os móveis
Com as mãos vou tateando. Um por um.
Em reverência.
Ao que me sustenta quando em desamparo
As casas me sustentam em mim. Por isso as quero em detalhe,
Bem cuidadas e cheias de espaços onde novas coisas se deitam.
Costumo encontrar tesouros escondidos
nas dobras das colchas.
E nas louças sujas na pia. Tenho muitas janelas,
Que é por onde o sol e a chuva me vistam,
O vento aqui também é muito forte,
Às vezes derruba tudo e eu gosto,
Mas aqui também cabem pessoas,
Tem sempre lugar pra pessoas em mim.

Um comentário:

  1. Salve !
    Navegando pela grande rede sem rumo com a intenção de divulgar o meu blog cheguei até você e gostei do que vi.
    Já percebi que existem alguns blogs muito parecidos com o meu, ainda bem que estou no ar desde 2006 (até o layout é igual...falta de criatividade é um problema). No momento estou impedida de fazer leituras muito extensas, pois a claridade da telinha está prejudicando um pouco a minha visão, devo tomar um pouco mais de cuidado, mas em breve resolverei esse problema. Bem, já que estou aqui aproveito para convidar a conhecer
    FOI DESSE JEITO QUE EU OUVI DIZER... em
    http://www.silnunesprof.blogspot.com
    Eu como professora e pesquisadora acredito num mundo melhor através do exercício da leitura, da reflexão e enquanto eu existir, vou lutar para que os meus ideiais não se percam. Pois o maior bem que podemos deixar para os nossos filhos é o afeto e uma boa educação. Isso faz com que ela acredite na própria capacidade, seja feliz e tenha um preparo melhor para lidar com as dificuldades da vida. Com amor, toda criança será confiante e segura como um rei, não se violentará para agradar os outros e será afinada com o próprio eixo. E se transformará num adulto bem resolvido, porque a lembrança da infância terá deixado nela a dimensão da importância que ela tem.
    VAMOS TODOS JUNTOS PELA EDUCAÇÃO, NA LUTA POR UM MUNDO MELHOR !
    Se achar a minha proposta coerente, siga-me nessa luta por um mundo melhor. Peço que ao responder deixar sempre o link do blog, pois vez por outra o comentário entra com o link desabilitado ou como anônimo. Por causa disso fico sem ter como responder as pessoas.Os meus comentários também entram via e-mail, pois nem sempre a minha conexão me permite abrir as páginas: moro dentro de um pedacinho da Mata Atlântica, creio que mais alto que as antenas, com isso a minha dificuldade de sinal do 3G. Espero queentenda quando não puder visitá-lo.
    Daqui onde estou, os únicos sons que escuto aqui é o dos pássaros, grilos, micos., caipora, saci pererê, a pisadeira, matintapereira ... e outras personagens que vivem pela mata.
    Por hoje fico por aqui, já escrevi demais. Espero nos tornarmos bons amigos.
    Que a PAZ e o BEM te acompanhem sempre e que os bons ventos sopre, sempre a seu favor.
    Saudações Florestais !
    Silvana Nunes.'.

    ResponderExcluir